Alguém de espírito previdente me
enviou um cartão de Natal que já chegou.
Por dentro há uma meia dúzia de linhas, com os melhores
votos de boas festas de um amigo antigo. Por fora, uma imagem deliciosa dumas
casinhas cobertas de neve muito branca, com meninos brincando na rua e fumaça
saindo pela chaminé.
Sorrio, tocado pelo gesto desse
amigo de sempre. Depois de tantos Natais em silêncio, e de tantos outros
cumprimentando-me apenas por telefone, resolveu enviar-me um cartão à moda
antiga, pelos correios. Reli o texto, e depois voltei à imagem.
Toda a paisagem por trás das casas é
uma mata verde escuro, onde todas as árvores são árvores de Natal, enfeitadas
com bolas multicolores, estrelas e
luzinhas acrescentando brilhos. Nos céus, lá ao longe, muito pequenino, vem um
trenó puxado por renas, com um Papai Noel bem gordinho de braços abertos, como
se quisesse, num gesto de plena alegria, abraçar o mundo.
Claro que este é um cartão igual a
tantos outros, baratinho, que pode
comprar-se em qualquer lojinha da
cidade. Mas, para mim, recebê-lo foi uma coisa muito especial, que me fez
lembrar do tempo em que eu e precisamente aquele amigo, que mo enviou,
brincávamos na porta de casa fazendo bonecos de neve e construindo trenós, que
queríamos velozes – tão velozes como imaginávamos que era o trenó de Papai
Noel.
Brincávamos na neve, rindo sem
parar, até que os nossos dedinhos de criança ficassem roxos de frio, numa
espécie de licenciosidade que mamães e vovós reservam a esses dias, em que a
natureza se veste de branco para, mais uma vez, nos conseguir deslumbrar e
surpreender.
E dentro de casa havia a lareira
acesa, com a meia pendurada, a árvore de Natal cheia de luzinhas e enfeites de
todas as cores, as guirlandas nas portas, com as bagas vermelhas de azevinho,
as caixas dos presentes dos adultos, ricamente embrulhados, música da época,
enfim, todos os detalhes que compõem a mística do Natal.
Havia aquela expectativa imensa,
quase palpável, para ver se as cartas que tínhamos escrito para Papai Noel muito
tempo antes, com as lista dos presentes que mais desejávamos, tinham sido
atendidas - e se os presentes eram aqueles que tínhamos pedido.
De tudo isto me lembrei, ao receber este
cartão do meu amigo. E agora estou aqui pensando que eu mesmo ainda não fiz nada. Nem lhe mandei
um cartão, nem lhe escrevi, nem lhe telefonei, enfim: - Nada.
Na verdade, custei a arranjar tempo
para montar uma árvore de Natal em casa, para que a época não passe
despercebida. Mas ainda bem que o fiz, pois este cartãozinho tão simples, que o
meu amigo me mandou, veio mostrar-me como é importante cuidar destes pequenos
detalhes.
É preciso mantê-los vivos para que a
tradição não se perca, e perdure o costume de um dia no ano - pelo menos um
dia, no ano – as pessoas olharem o mundo com mais alegria, com mais carinho,
serem mais atentas aos detalhes da vida e aos outros, e desejarem-se mútuamente
felicidades por se quererem bem.
E, por se quererem bem, partilharem mais, dividirem melhor, não apenas os bens materiais, as coisas palpáveis, mas a ternura e o afeto, bem como a atenção e a alegria.
E, por se quererem bem, partilharem mais, dividirem melhor, não apenas os bens materiais, as coisas palpáveis, mas a ternura e o afeto, bem como a atenção e a alegria.
E se, para isso, for necessária
alguma imaginação - tanto melhor. E se ao cuidar dos detalhes, e de tudo o que
é necessário para conservá-los, fizermos nascer, ou até aumentarmos, o folclore
que rodeia a quadra Natalina, isso será
excelente.
Porque isso é a verdadeira cultura, perpetuando-se, levando-nos a ser capazes de conviver com valores que, apesar de se apoiarem em sonho e fantasia, não podemos deixar nunca que sejam menos reais.
Porque isso é a verdadeira cultura, perpetuando-se, levando-nos a ser capazes de conviver com valores que, apesar de se apoiarem em sonho e fantasia, não podemos deixar nunca que sejam menos reais.
Olho novamente o pequeno cartão que
recebi, meio anacrônico nos dias de hoje, meio fora de moda, mas desta vez
olho-o com um novo respeito.
Talvez tenhamos de fazer algumas
concessões, algumas adaptações, não sei bem.
Talvez seja difícil imaginar Papai
Noel descendo pela chaminé para entregar os presentes, quando hoje se mora em
apartamentos onde não há chaminés.
Talvez os meninos daqui da cidade
estejam certos, quando falam das renas como sendo veadinhos. E é claro que não
sentem o menor entusiasmo com o trenó, que não tem rodas e só é capaz de
escorregar numa tal de neve, que nunca ninguém viu.
Talvez Papai Noel tenha de vir de
charrete, não sei bem. Ou de carroção, provávelmente puxado por bois dourados,
devagarinho. E usando bermuda vermelha, talvez, por causa do calor...
Mas, ainda assim, valerá a pena ! Sempre valerá a pena.
As lembranças lindas da infância e o Natal!! Um simples cartão..talvez até com brilhos de brocais. Que Papai Noel venha em todas as casas. Dos castelos, aos mais humildes ranchinhos perdidos nos rincões do mundo. Que todas as mesas sejam fartas e os seres em perfeita comunhão!! E, terás realizado o teu sonho mais bonito!! Suavidade e belezas singelas, aqui encontrei!! Abraços Poeta-amigo!!
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