sábado, 9 de janeiro de 2016

5 - NATAL de 2012 O Banco do Sr. Schluss.




Tal como sempre acontecia, o Natal aproximava-se a toda a velocidade.

O frio já se fazia sentir, as últimas folhas tinham caído das árvores, e as noites chegavam cedo, como que num convite às pessoas a recolherem-se cedo, e a abandonarem as ruas. Tudo se virava para dentro de casa e o conforto do lar.

As iluminações típicas da quadra, eram apenas o suficiente para torná-las um pouco menos inóspitas e faziam com que, independentemente do clima,  a ideia de festividade e de  coisas boas em casa, sendo  partilhadas com a família, fosse a todo momento lembrada e estivesse presente em todos.

Aqui, apesar do frio, toda a gente parecia estar satisfeita, menos  o Sr. Schluss,  do banco. E ele sabia muito bem porquê, O Sr. Schluss:  - ele tinha detetado uns errinhos aqui, outros errinhos ali, outros errinhos acolá, nas contas dos clientes do seu banco ! Coisinhas insignificantes, sem dúvida, mas quem julgavam que ele era, hem ? Ele era um profissional de primeira ! Ele não ia nunca deixar passar uma coisa daquelas. Jamais !

Então o Sr. Schluss  pegou no telefone e ligou para o seu colega de um outro país, para saber mais detalhes do que se passava.

-Keys? É você ? Daqui é Schluss, como vai ? Feliz Natal para você também obrigado !... Sim, sim, obrigado…para você também!  Olhe, Keys, eu preciso pedir-lhe uma informação. Tenho vindo a notar que as contas dos meus clientes mostram pequenas compras feitas com cartão aí no seu país. Valores muito pequenos, quase insignificantes….coisinhas de nada…Quase todos eles, sim… sim…muitos !Como?...Você também?...E são compras feitas aqui no meu país? Pelos seus clientes ?

Do outro lado, o Mister Keys foi respondendo que sim a todas as suas perguntas.  A surpresa foi tão grande que o Sr. Schluss  até deu um salto e ficou em pé. Depois, perturbado,  desligou sem agradecer e ligou para um outro colega de um outro país.

LeClef! Aqui é Schluss! Sim ! Sim, claro, Boas Festas para si também, obrigado! Ah, sim para a minha sogra, claro ! Obrigado, obrigado, para a sua também. Mas LeClef…E para a esposa, isso! Ah sim! A torre da igrejinha, claro…branca...Sim, claro...Muito bonito, sim !... Isso, LeClef…. Isto é urgente, LeClef… Mas…. me escuta… sim ! Sim LeClef ! Diga-me uma coisa então: - Estive a falar com o Keys e ele está com o mesmo problema que eu. Nas contas dos clientes dele aparecem muitas compras feitas com cartão. Valores muito pequeninos, quase insignificantes, coisas que mal se notam, mas em quase todas… e são todas compras feitas no estrangeiro, ou em cidades onde os clientes nunca andaram recentemente.  Você já ouviu falar de alguma coisa assim ? O quê ? Você também ????? Mas então as coisas estão muito complicadas,  o problema é geral !!!  Obrigado, LeClef ! Boas Festas!

O senhor Schluss ficou muito tempo sentado olhando pelos vidros da janela sem chegar a nenhuma conclusão.  Por todo o lado, pequenas compras de valores muito pequenos haviam sido feitas com cartão, e agora os donos dos cartões negavam tê-las feito. E ficavam furiosos quando o banco insistia em cobrar.

Os funcionários do banco simplesmente não  conseguiam que os clientes concordassem que tinham feito compras tão estranhas, e de valor tão baixo em lugares tão diferentes. Recusavam-se a pagar - E o banco não queria de maneira nenhuma ter problemas com os seus clientes tradicionais por valores tão pequeninos, é claro! Por isso, ele não insistia e tratava tudo como se tivesse sido um erro do banco. Mas ele, Schluss sabia que não era!

E agora que falara com os seus colegas dos outros países, e sabia que eles estavam enfrentando o mesmo tipo de problema, ele sabia que não ia ser fácil de resolver. Por isso estava tão apreensivo.

Podia ver pela janela muitas entregas chegando ao bairro pobre, na parte mais baixa da cidade. Resolveu saír para a rua para ver melhor, estranhando o movimento,  e cruzou-se com um grupo de crianças, já não muito pequenas, que o cumprimentaram sorridentes: “-Olá Sr. Schluss ! Boas Festas ! “.  Depois sorriram, e entre risos saíram correndo…

Ficou meio desconfiado a olhar para eles, como se algo não lhe soasse bem, mas sem ser capaz de identificar o quê. Sería que noutro lugar do mundo outras crianças cumprimentavam o  Chávez, e o Keys como o estavam a cumprimentar a ele, assim com aquele ar excessivamente santinho ?

Seria que as crianças tinham alguma coisa a ver com aquilo ? As crianças, com a sua internet, e os seus laptop e os cartões de créditos dos seus pais….Seria possível ? Hummm...

Olhou um grupo de crianças que pulava e ria e, no meio delas, o seu próprio filho, que brincava, já a caminho de casa, com o seu pequeno computador novo debaixo do braço.

Então ele teve a certeza  de que não precisava procurar mais explicações, e de que já conhecia  as razões pelas quais tudo tinha acontecido. Iria chamar os pais das crianças, explicar-lhes que não se tratava de erro do banco, nem de quebra de segurança nas contas deles, mas que tinha sido uma maneira de os seus filhos quererem endireitar o mundo, sem saber que é preciso mais do que um grande coração para se ser Pai Natal.

Como o exemplo era muito bonito, iria propôr às lojas, aos pais e ao próprio banco, que dividissem os custos envolvidos de maneira a que as pessoas necessitadas pudessem conservar os presentes que já tinham ganho e ter um Natal mais Feliz.

Olhou para o seu filho subindo a rua, ainda em passinhos curtos de jovem desajeitado, e sorriu satisfeito, já antecipando nele um homem de bem, que se revelava até no que fazia de errado.


Na parte baixa da cidade continuavam a chegar encomendas de cores vivas trazendo coisas de Natal, provocando gritos à criançada. A neve recomeçou a cair mansinha. Não tardariam a aparecer rastos de trenó!

"Hou ! Hou! Hou!", disse baixinho o sr. Schluss.


Um comentário:

  1. É, o Natal, o teu Natal, amansa até banqueiros, criaturas carrancudas e insípidas. Estou a fazer um lindo tour poético-natalino!! Adorei o HOU HOU HOU já meu amigo!! Abraços

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