Tal
como sempre acontecia, o Natal aproximava-se a toda a velocidade.
O
frio já se fazia sentir, as últimas folhas tinham caído das árvores, e as
noites chegavam cedo, como que num convite às pessoas a recolherem-se cedo, e a
abandonarem as ruas. Tudo se virava para dentro de casa e o conforto do lar.
As
iluminações típicas da quadra, eram apenas o suficiente para torná-las um pouco
menos inóspitas e faziam com que, independentemente do clima, a ideia de festividade e de coisas boas em casa, sendo partilhadas com a família, fosse a todo
momento lembrada e estivesse presente em todos.
Aqui,
apesar do frio, toda a gente parecia estar satisfeita, menos o Sr. Schluss, do banco. E ele sabia muito bem porquê, O Sr.
Schluss: - ele tinha detetado uns
errinhos aqui, outros errinhos ali, outros errinhos acolá, nas contas dos
clientes do seu banco ! Coisinhas insignificantes, sem dúvida, mas quem
julgavam que ele era, hem ? Ele era um profissional de primeira ! Ele não ia
nunca deixar passar uma coisa daquelas. Jamais !
Então
o Sr. Schluss pegou no telefone e ligou
para o seu colega de um outro país, para saber mais detalhes do que se passava.
-Keys?
É você ? Daqui é Schluss, como vai ? Feliz Natal para você também obrigado !...
Sim, sim, obrigado…para você também!
Olhe, Keys, eu preciso pedir-lhe uma informação. Tenho vindo a notar que
as contas dos meus clientes mostram pequenas compras feitas com cartão aí no
seu país. Valores muito pequenos, quase insignificantes….coisinhas de nada…Quase
todos eles, sim… sim…muitos !Como?...Você também?...E são compras feitas aqui
no meu país? Pelos seus clientes ?
Do
outro lado, o Mister Keys foi respondendo que sim a todas as suas perguntas. A surpresa foi tão grande que o Sr. Schluss até deu um salto e ficou em pé. Depois,
perturbado, desligou sem agradecer e
ligou para um outro colega de um outro país.
LeClef!
Aqui é Schluss! Sim ! Sim, claro, Boas Festas para si também, obrigado! Ah, sim
para a minha sogra, claro ! Obrigado, obrigado, para a sua também. Mas LeClef…E
para a esposa, isso! Ah sim! A torre da igrejinha, claro…branca...Sim, claro...Muito bonito,
sim !... Isso, LeClef…. Isto é urgente, LeClef… Mas…. me escuta… sim ! Sim LeClef
! Diga-me uma coisa então: - Estive a falar com o Keys e ele está com o mesmo
problema que eu. Nas contas dos clientes dele aparecem muitas compras feitas
com cartão. Valores muito pequeninos, quase insignificantes, coisas que mal
se notam, mas em quase todas… e são todas compras feitas no estrangeiro, ou em
cidades onde os clientes nunca andaram recentemente. Você já ouviu falar de alguma coisa assim ? O
quê ? Você também ????? Mas então as coisas estão muito complicadas, o problema é geral !!! Obrigado, LeClef ! Boas Festas!
O
senhor Schluss ficou muito tempo sentado olhando pelos vidros da janela sem
chegar a nenhuma conclusão. Por todo o
lado, pequenas compras de valores muito pequenos haviam sido feitas com cartão,
e agora os donos dos cartões negavam tê-las feito. E ficavam furiosos quando o
banco insistia em cobrar.
Os
funcionários do banco simplesmente não conseguiam que os clientes concordassem que
tinham feito compras tão estranhas, e de valor tão baixo em lugares tão
diferentes. Recusavam-se a pagar - E o banco não queria de maneira nenhuma ter
problemas com os seus clientes tradicionais por valores tão pequeninos, é claro!
Por isso, ele não insistia e tratava tudo como se tivesse sido um erro do
banco. Mas ele, Schluss sabia que não era!
E
agora que falara com os seus colegas dos outros países, e sabia que eles
estavam enfrentando o mesmo tipo de problema, ele sabia que não ia ser fácil de
resolver. Por isso estava tão apreensivo.
Podia
ver pela janela muitas entregas chegando ao bairro pobre, na parte mais baixa
da cidade. Resolveu saír para a rua para ver melhor, estranhando o movimento, e cruzou-se com um grupo de crianças, já não
muito pequenas, que o cumprimentaram sorridentes: “-Olá Sr. Schluss ! Boas
Festas ! “. Depois sorriram, e entre
risos saíram correndo…
Ficou
meio desconfiado a olhar para eles, como se algo não lhe soasse bem, mas sem
ser capaz de identificar o quê. Sería que noutro lugar do mundo outras crianças
cumprimentavam o Chávez, e o Keys como o
estavam a cumprimentar a ele, assim com aquele ar excessivamente santinho ?
Seria
que as crianças tinham alguma coisa a ver com aquilo ? As crianças, com a sua
internet, e os seus laptop e os cartões de créditos dos seus pais….Seria
possível ? Hummm...
Olhou
um grupo de crianças que pulava e ria e, no meio delas, o seu próprio filho,
que brincava, já a caminho de casa, com o seu pequeno computador novo debaixo
do braço.
Então
ele teve a certeza de que não precisava
procurar mais explicações, e de que já conhecia as razões pelas quais tudo tinha acontecido.
Iria chamar os pais das crianças, explicar-lhes que não se tratava de erro do
banco, nem de quebra de segurança nas contas deles, mas que tinha sido uma
maneira de os seus filhos quererem endireitar o mundo, sem saber que é preciso
mais do que um grande coração para se ser Pai Natal.
Como
o exemplo era muito bonito, iria propôr às lojas, aos pais e ao próprio banco,
que dividissem os custos envolvidos de maneira a que as pessoas necessitadas
pudessem conservar os presentes que já tinham ganho e ter um Natal mais Feliz.
Olhou
para o seu filho subindo a rua, ainda em passinhos curtos de jovem desajeitado,
e sorriu satisfeito, já antecipando nele um homem de bem, que se revelava até no que fazia de errado.
Na
parte baixa da cidade continuavam a chegar encomendas de cores vivas trazendo
coisas de Natal, provocando gritos à criançada. A neve recomeçou a cair
mansinha. Não tardariam a aparecer rastos de trenó!
"Hou ! Hou! Hou!", disse baixinho o sr. Schluss.
É, o Natal, o teu Natal, amansa até banqueiros, criaturas carrancudas e insípidas. Estou a fazer um lindo tour poético-natalino!! Adorei o HOU HOU HOU já meu amigo!! Abraços
ResponderExcluir